Contos sobre a Cratera Perdida (Guatemala): Amor

"na cratera,
conta-se,
depois de uma grande tragédia amorosa,
que levou a uma guerra que dividiu até hoje este espaço mínimo em dois,
as histórias de amor foram proibídas nas canções,
nos contos para crianças,
na arte em geral.

com o passar das gerações,
amor,
foi uma palavra que caíu no esquecimento,
nunca dita,
saindo da oralidade,
sobrevivendo no imaginário de cada um.

encontra-se registrada apenas na Grande Encicoplédia do Multiverso,
o único livro permitido,
que contém todos os conceitos comuns a todos habitantes daquela aldeia babilónica,
mas sendo a única que não contém qualquer definição ou descrição,
apenas como se escreveu em tempos nas 38 línguas reconhecidas,
Ái, Amo, Amol, Amor, Amor, Amor, Amore, Amour, Armastan, Armastus, Ast, Bolingo, Cariad, Cinta, Dashuria, Dragoste, Dua, Gradh, Guiaya, Higugma, Ihunaya, Jaceyl, Karlec, Kjaleik, Laska, Leevde, Ljubav, Ljubezen , Liebe, Love, Maitasun, Mbi, Meile, Namumutan, Pyar, Rakkaus, Szerelem, Xanp,
seguindo-se uma nota:
"conceito em constante busca de significado"

até hoje esta palavra muda é o fascínio da adolescência da Cratera,
porque é um objecto de infinitas possibilidades,
um conceito sem a barreira de uma pré-existência,
aquele que falta aprender para se chegar a adulto.

é como se fosse a único conceito da vida prática que pertence a todos,
mas que sobre o qual cada um tem de encontrar a sua definição,
sendo algo que se refere ao que está além,
ao que não se deixa limitar.

é como se de deus se tratasse,
mas um comum a todas famílias,
a todas as pessoas,
e não um que as dividisse.

é como se descrevesse o inexplicável,
aquilo que faz quaisquer duas pessoas se reconhecerem mutuamente como semelhantes.

os dois estados fizeram as pazes mas nunca se reunificaram,
já tinham as suas dinâmicas,
preferiram mantê-las,
que era uma maneira de criar um espaço de diferença,
que se julgava ser mais agradável à alma,

... mas conta-se que deixou de haver fronteiras, 
podendo cada um viver onde quiser,
reinando o caos até hoje,
a bem de todos que nele vivem."

encontrado, transcrito e traduzido por filipe dias De de cap. XII, "Amor", in "Contos sobre a Cratera Perdida" (Guatemala), Autor Desconhecido